O Yoga da descoberta de si mesmo

16/12/2010 10:48

Larissa Leal Gonçales

 

Refletindo sobre o fato de que existem muitos caminhos e cada um tem o seu, e que nem sempre o que é bom pra uns necessariamente é bom para os outros, lembrei do que o professor João C. B. Gonçalves me disse um dia, algo sobre o qual nunca havia pensado mas que fez todo sentido para mim:

"Não há como alguém se considerar Yogi ou percorrer o caminho do Yoga sem em certo ponto vir a questionar as questões sobre a morte. "

 

Estas questões estão muito além de corpo saudável, longevidade ou evitar o enfarto e o stress. Se o Yoga é um caminho de transcendência um yogi há que questionar "quem sou", "de onde vim" "para onde vou", "o que á a morte". Mas há quem passe a vida "praticando" Yoga mas não passa nem triscando por perto da Luz do Yoga.

Diferentes Dharshanas dão diferentes explicações sobre a origem do Universo manifestado, e no fim são muito semelhantes. Se estudarmos os Shastras, de onde se tira a essência documentada do verdadeiro Yoga, antes das modificações modernas que utilizamos e que muitas vezes nos afastam por demais do objetivo inato, especialmente a Hatha Yoga Pradipiká, que foi o elo motivador do Hatha Yoga Moderno, veremos que o Hatha Yoga não é só o Yoga do Corpo, não é Yoga inferior, mas simplesmente Yoga, o Yoga védico, é a leitura tântrica do Yoga de Patañjali, ou seja, o bom e único velho Yoga, que é um só. AQUELE QUE LEVA À DESCOBERTA DE SI MESMO.

 

Hatha Yoga Pradipiká- A conquista da Morte.

O Yoga de hoje tem seu imenso valor, mas não é o Yoga natha, da Hatha Yoga Pradipiká. Porém esta escritura foi o elo motivador do Hatha Yoga Moderno. E a leitura da Pradipiká segundo a tradição Natha nos mostra a finalidade da prática do Hatha Yoga: Através de um esforço interno o Yogi procura comandar o prána e introduzi-lo em um espaço simulando a condição da morte corporal. O OBJETIVO É A CONQUISTA DA MORTE EM VIDA.

Na concepção Natha o prána no momento da morte abandona o corpo, preferencialmente através da cabeça. Não sai pelas 9 portas, mas se concentra na cabeça. Então o Yogi faz o prána circular pela cabeça como se estivesse morrendo, mas engana a morte, não morre. Trata-se da morte em vida, uma morte ritualizada, cerimonial, à qual se sobrevive, renascendo com a prática do Yoga.

As mudrás têm um papel essencial, e não são os gestos de mãos das estatutárias e da dança indiana. As mudrás, na Pradipiká, feitas com o corpo todo, a mente, a atenção, são descritas como a chave que escancara a porta da Libertação. Fazem Kundaliní se espalhar pelo corpo e ativar a força da Shaktí para o canal de sushumna, para sair pela 10ª porta- o Brahmarandra (portão de Brahman).

 

HYP- " Yoga é a integração do Atma (si mesmo) e da mente (manás) e a integração do si mesmo corporal (jivatma) com o si mesmo supra corporal (paramatma)" . Então o eu dentro e o eu fora do corpo são os mesmos.

Também diz a HYP- Aquele que controla o prána controla a mente e aquele que controla a mente controla o prána. Porque prána e mente têm a mesma natureza.

 

Seja qual for o caminho, a meditação é o eixo da prática, e cada um ao seu passo e com suas chaves parece estar procurando o mesmo. Abrir as portas da libertação. O Yoga é um só, o Yoga da descoberta de si mesmo. Então vamos cuidar de nós, praticar Yoga, iludir a morte, enganar o tempo. É por isto que vários Shástras começam com a frase:

 

"Saudação, ó Imortal!"

 

Meditemos sobre isto.

Namaste

 

Larissa Leal Gonçales é yoginí e professora de Yoga, em São Caetano do Sul- SP.