O Eterno Agora e a Síndrome do Pânico

14/10/2010 11:06

Ana Paula Malagueta

 

Passado, presente e futuro se cruzam e se perdem em nuvens negras de medo e temporalidade. A Síndrome do Pânico é mais uma, das tantas, patologias modernas. Não importa que idade você tenha ou quão zen você seja, qualquer um de nós pode ser mais uma de suas vítimas.

Não me lembro o ano exato em que tudo começou, pois como todo início, não dei muita bola para o que meu corpo me mostrava. Deixei o rio fluir e chegou um momento em que este transbordou. Nesse transbordar vi toda minha vida rodar a minha volta e eu, no epicentro, incapaz de reagir. Passei um ano indo de médico em médico, e realizando todos os tipos de exames, sem que nenhum pudesse diagnosticar o que havia de errado comigo. Até que um neurologista resolveu me prescrever um remédio, de tarja preta, contra ansiedade. Não tomei. Isso não era o bastante para mim. Queria entender o que estava de errado e não apenas tampar o sol com a peneira.

Como acredito muito nas terapias integrativas ou alternativas, fui buscar auxílio na homeopatia. Fiz um tratamento de um ano e me senti relativamente melhor. Até que um dia, descobri que nada havia melhorado. Fui num show no estádio do Pacaembu (sim! Professor de Yoga também vai a show!) com uns amigos, e num determinado momento, eles se afastaram e eu fiquei sozinha. O desespero foi aos poucos pegando meu pé, depois minha perna, meu estômago e quando vi, ele se enrolara por todo meu corpo, como uma jibóia paralisando sua presa para o jantar.

Eu estava à mercê das minhas projeções. Estava totalmente identificada com meus sentimentos, com as sensações e projeções de um passado e de um futuro. O Agora não existia mais. No auge de meu desespero, me direcionei para a enfermaria, e fiquei lá, ao lado, só para o caso do pior acontecer. Pegava meu celular, e a cada um minuto, ligava para meu pai. Pedia socorro. Tinha a nítida certeza de que iria morrer. Não sabia exatamente do que ou como, mas sabia que iria morrer.

Sentia tontura, sentia fraqueza, sentia minhas mãos geladas e me visão fraquejava. Estava mais uma vez a mercê da Síndrome do Pânico. Não tinha controle nenhum sobre mim e estava distante do meu Ser, identificada com meu Ego e minhas fragilidades. Acreditava ser o medo, ser o corpo e ser a solidão. Quem já passou por isso, sabe como ficamos impotentes perante tudo. Como uma marionete. No meu caso, a crise só passava quando estava em companhia de alguém. Aquela falsa sensação de segurança que buscamos no outro. Mas que não é real. É impermanente. Depois desse dia decidi que não podia mais viver assim. Não queria ser mais uma marionete, queria ser Inteira. Completa de mim.

Voltei-me então para o tratamento ortomolecular e para a prática de yoga. Não me voltei para os ásanas, mas sim, para a prática de pránáyáma e meditação. Fiz de cada momento uma oportunidade de parar e me observar na ação. Se estava conversando com alguém, tentava realmente estar ali, ouvindo e sentindo a companhia da pessoa. Se estava assistindo televisão ou lendo um livro, mergulhava fundo e desligava as percepções do exterior. Respirava profundo. Na inspiração mentalizava: estou aqui. Na expiração mentalizava: está tudo bem. Eu não sou essas sensações de meu corpo, não há motivo para ter medo.

Todos nós vamos morrer um dia, e se hoje for esse dia, está tudo bem também. Não preciso temer. O passado não me importa, pois não posso modificá-lo. O futuro não me interessa, pois é incerto. A única coisa que me importa é este momento. Somente neste momento eu posso agir. Somente o Agora é eterno. O tempo é uma criação humana. Quando nos damos conta disso, paramos de correr contra o relógio, o que só aumenta a ansiedade, e passamos a nos entregar para a única verdade. O Agora eterno, atemporal.

Assim, eu abraçava e acolhia a minha fragilidade, aceitando-a por completo. Parei de me culpar ou me julgar por ser uma professora de yoga, e não ter controle sobre mim. Aceitei-me como um ser encarnado e, portanto, repleta de limitações e suscetível de erro. Aceitei a minha limitação, ao mesmo tempo, em que me distanciava dessas emoções negativas e do Ego. Concentrando-me somente no Agora.

Anos se passaram e minha prática ainda continua. Um passo de cada vez, firme e incerto, sem saber se voltarei a cair de novo. Mas estou tranqüila e feliz. Sei que o Ego é algo criado por nós, e sei também, que o Ser é a única realidade eterna. E que este é paz, amor, felicidade e saúde perfeita. Confio no Yoga e no que ele pode nos oferecer. Pois graças ao yoga e a minha família e amigos que encontrei a minha força interna, para lutar e reassumir o espaço, antes do Ego. O Yoga fortalece o nosso senso de integração entre mente-corpo-espírito, e retira, pouco a pouco, todos os véus que obscuram nossa visão do Ser. Meu coração se abriu para a realidade e poder de presença do Agora Eterno. E se por algum motivo eu me esqueço disso, tenho sempre em mente o seguinte mantra, Aham Prema (Eu sou Amor), respiro fundo e sinto que não existe nada além do momento presente. E nas sábias palavras do querido professor Hermógenes: Aceito. Confio. Entrego. Agradeço.

Espero que todos aqueles que lutam contra a Síndrome do Pânico possam se conectar com sua força interna e ver além das emoções sufocantes. Ir além. Gate Gate. Há muito no Presente de belo e todo o poder de cura se encontra dentro de nós. Não importa aonde você busque auxílio nesse momento de dificuldade, mas não deixe de lutar. Pois o poço tem mola, e quando a gente salta, o Ser brilha e preenche todo o espaço. Tornamos-nos plenitude e quebramos as amarras do Ego, abrindo os braços para saudar e brincar com a vida, onde tudo se torna plenitude, dentro e fora. Lembre-se que você não é suas projeções, é o Ser, a Consciência Divina. Tente se lembrar mais disso, ao invés de sempre se esquecer.  

Om shanti Om prema!

Ana Paula Malagueta é yogini e professora em São Paulo.